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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

“Crimes da moda” migram de arrastões a restaurantes para assalto a condomínios no Morumbi em 2011

explosão-caixas-eletrônicos-700x525-20110512Hélio Torchi/AE/26.07.2011
Em julho, bandidos explodiram mais um caixa eletrônico na rua do Oratório, no parque Novo Oratório, em Santo André, no ABC Paulista


Roubos a joalherias de shoppings, arrastões em restaurantes, explosões a caixas eletrônicos e assaltos a condomínios de luxo na zona sul de São Paulo. Entre 2010 e 2011, criminosos agiram no Estado focando suas ações em determinados delitos, em períodos específicos, fazendo os paulistas viverem assustados com os “crimes da moda”. Embora a ação repetida dos bandidos tenha feito a população questionar o porquê de as autoridades não responderem também focando no combate específico a um determinado tipo de crime, para especialistas ditam a solução para essas "ondas" criminosas não passa pela criação de delegacias ou setores da polícia especializados, mas sim pela construção de um banco de dados consistente, que contenham informações sobre as quadrilhas que atuam em todo o Estado. 

De acordo com Guaracy Mingardi, analista criminal e pesquisador da faculdade de direito da Fundação Getúlio Vargas, a especialização das delegacias em crimes que viram moda não iria diminuir a ação dos bandidos, já que eles tendem sempre a mudar o tipo de crime conforme a polícia comece a combatê-los. 

- Eu acho que se você especializar demais vai tirar gente [da polícia para investigar]. O Deic [Departamento de Investigações sobre Crime Organizado] tem que se especializar em roubos profissionais, como roubo a banco. Agora roubar joias, ou assaltar um condomínio não é tão especifico. Criam-se especializações porque não há arquivos [de registros policiais] bem feitos. 

Mingardi afirma que um completo banco de dados identificaria todos os criminosos do Estado, mostrando como as quadrilhas agem, e se estão interligadas. 

- Se existissem arquivos de receptadores e ladrões muito bem feitos, que discutem aparência, modus operandi [forma de agir], cúmplices habituais, você não precisaria ter um cara que é muito especializado nisso [para investigar]. 

Roubos da moda

No ano passado, os roubos a joalherias foram a bola da vez. Em maio, a loja da Tiffany foi assaltada no Shopping Cidade Jardim, na zona sul de São Paulo. Os bandidos levaram 72 peças e o prejuízo foi de pelo menos R$ 1,5 milhão. A polícia conseguiu prender quatro homens que participaram do roubo, mas outros conseguiram fugir.

Um mês depois, bandidos assaltaram a joalheria Rolex, também no Shopping Cidade Jardim. Foram roubados cerca de 140 relógios, revendidos por R$ 600 mil, segundo investigadores do caso.

Neste ano, os ataques a caixas eletrônicos marcaram principalmente o primeiro semestre. Apesar de a SSP (Secretaria de Segurança Pública) não contabilizar separadamente essa modalidade, o número de roubos a bancos cresceu 22% em São Paulo nos dez primeiros de 2011 em comparação ao mesmo período do ano passado. Foram 213 registros desse tipo de ataque, contra 174 em 2010.

Quase que diariamente, o crime de explosão a caixa eletrônico é registrado em São Paulo. Ao longo do ano, bandidos atacaram postos de gasolina, supermercados e até padarias com caixas. Até setembro, o Banco Central recolheu quase 28 mil notas manchadas de tinta vermelha, dispositivo acionado quando há explosão.

Também neste ano, vários paulistanos foram vítimas de arrastões em restaurantes. Agora, no segundo semestre, os assaltos a condomínios, principalmente em bairros de luxo da zona sul, parecem ter se tornado a "nova onda". No dia 15 de novembro, uma quadrilha armada invadiu um prédio na rua José de Cristo Moreira, a cerca de 2 km do Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi. Segundo a polícia, todos estavam encapuzados e conseguiram invadir pelo menos sete apartamentos, de onde levaram relógios, joias e dinheiro. A violência no Morumbi se tornou tão frequente que atingiu até o setor de venda de imóveis. Segundo corretores, está difícil vender casas na região.

Oportunismo
De acordo com o delegado geral de Polícia Civil de São Paulo, Marcos Carneiro, o criminoso é oportunista, por isso os crimes da moda funcionam como ondas. Quando o bandido percebe que a polícia começa a focar em uma modalidade, ele migra para outro tipo de ação e tira o máximo proveito.

- [Os crimes da moda existem] porque o criminoso é oportunista e ele quer ganhar o maior valor patrimonial possível, dentro do menor tempo e com menor risco. Então, ele sempre procura uma alternativa diferenciada para fazer os crimes e poder ter lucro rápido. Quando tem ação da polícia que inibe e prende, eles acabam mudando a modalidade porque vê que está tendo prejuízo. 

Visibilidade
Para o coronel reformado da Polícia Militar, José Vicente da Silva Filho, especialista e consultor em segurança pública, o que ocorre é uma "pequena onda de crimes" que parece grande porque ela ganha mais visibilidade junto à imprensa. 
- São crimes com maior visibilidade. Há impressão de que eles são maiores porque eles têm mais visibilidade. A polícia se preocupa com isso, mas se preocupa também com outros. São crimes mais expostos pela mídia. Porque, quando falamos em quantidade, tem outros crimes que são mais frequentes, como o de roubo a carros, que são mais de 80 mil por ano no Estado.

Segundo Carneiro, sempre existirá “esse jogo de gato e rato”, porque não há como evitar que os crimes virem moda entre os bandidos.

- Não, não tem [como prevenir os crimes antes de virarem moda]. Quando começa uma ação criminosa a polícia tem que dar uma resposta, que tem que ser de qualidade e rápida, para que não tenha essa características aí [de crime da moda].
 



Emidio Campos
Gestor de Segurança
http://segurancadecondominio.blogspot.com
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