Deitada na sombra para se refrescar do forte calor em São Carlos (SP), Lilica não se importa com a aproximação das pessoas. Dócil, deixa passar a mão em sua cabeça e fazer carinho. Basta, porém, perceber alguma câmera apontada em sua direção para se levantar e sumir para o meio do mato.
Desde que teve sua história divulgada, há cerca de dois meses, a cadela que há três anos leva comida para outros animais que convivem com ela em um ferro velho não tem mais sossego. Lilica ganhou fama nacional, mas parece preferir o anonimato.
Desde que teve sua história divulgada, há cerca de dois meses, a cadela que há três anos leva comida para outros animais que convivem com ela em um ferro velho não tem mais sossego. Lilica ganhou fama nacional, mas parece preferir o anonimato.
“Tem aparecido muita gente. As pessoas ligam, pedem para visitar, chegam aqui, passam a mão, tiram foto. Mas quando vem a imprensa ela fica tímida, com medo e se esconde no mato”, contou a catadora Neile Vânia Antonio, que cuida de Lilica desde que ela foi abandonada ainda filhote na porta do ferro velho.
A reportagem do G1 esteve no local e constatou a dificuldade para fotografar o animal. Lilica estava deitada descansando e, quando dona Neile chegou em casa, a cadela foi ao seu encontro abanando o rabo. Bastou ver a câmera apontada para ela mudar a direção e correr para o mato. Dez minutos depois ela voltou e deitou em um canto no quintal. Ao perceber novamente a aproximação da câmera, ela se levantou e fugiu mais uma vez.
Rotina
Todas as noites, entre 20h e 21h, Lilica cumpre rigorosamente a sua missão, mesmo que esteja chovendo. O destino é casa da professora Lúcia Helena de Souza, que cria 13 cachorros e 30 gatos, todos recolhidos da rua. Depois de servir o jantar da turma, a professora prepara uma marmita para Lilica.
Todas as noites, entre 20h e 21h, Lilica cumpre rigorosamente a sua missão, mesmo que esteja chovendo. O destino é casa da professora Lúcia Helena de Souza, que cria 13 cachorros e 30 gatos, todos recolhidos da rua. Depois de servir o jantar da turma, a professora prepara uma marmita para Lilica.
A cadela mata a fome, pega a sacolinha com o alimento separado pela professora e segue de volta ao ferro velho. São dois quilômetros de caminhada na lateral de uma estrada bem movimentada. No escuro, a pista fica ainda mais perigosa, mas Lilica atravessa com segurança e em poucos minutos chega com o jantar dos outros animais com quem divide o espaço no ferro velho: um cão, um gato, um galo, uma galinha e até uma mula.
Ajuda
A história comoveu pessoas de todo o Brasil. A reportagem na internet teve mais de 96 mil compartilhamentos pelas redes sociais. Lilica também foi exbida ainda no programa 'Mais Você', de Ana Maria Braga, e no 'Globo Repórter'. Muitas pessoas entraram em contato com Neile oferecendo ajuda. Lilica ganhou sacos de ração e outros cuidados.
A história comoveu pessoas de todo o Brasil. A reportagem na internet teve mais de 96 mil compartilhamentos pelas redes sociais. Lilica também foi exbida ainda no programa 'Mais Você', de Ana Maria Braga, e no 'Globo Repórter'. Muitas pessoas entraram em contato com Neile oferecendo ajuda. Lilica ganhou sacos de ração e outros cuidados.
“Uma veterinária da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária] trouxe remédios para verme e deu injeção contra a raiva. As pessoas ligam todo dia e oferecem ração, remédios ou perguntam se podem trazer algo. Até cesta básica eu ganhei”, contou a dona da cadela.
Dona Neile disse que tudo o que recebe é dividido entre os demais animais que vivem no local. Ela afirmou que nunca teve dificuldade para alimentá-los. “A ajuda é boa, sempre bem-vinda. Eu repasso também aos filhotes da Lilica, hoje castrada, que vivem em outros locais. É bom porque está sustentando mais bichinhos”, ressaltou a catadora.
Instinto materno
Para o veterinário Alexandre dos Santos, Lilica mantém essa rotina porque tem um instinto materno e de liderança entre os bichos. Segundo o especialista, Lilica adotou nos últimos anos a postura da líder e sempre teve uma preocupação materna, que consiste em cuidar das outras raças com quem convive.
Para o veterinário Alexandre dos Santos, Lilica mantém essa rotina porque tem um instinto materno e de liderança entre os bichos. Segundo o especialista, Lilica adotou nos últimos anos a postura da líder e sempre teve uma preocupação materna, que consiste em cuidar das outras raças com quem convive.
“Mesmo vivendo nesse ambiente onde tem tanta adversidade, ela não se esquece que no final de cada dia tem que sair, buscar o alimento e voltar para ajudar aqueles que estão presentes no local”, disse.
Acostumada à situação, dona Neile contou que ficou muito emocionada e que até chorou quando viu Lilica na televisão. “Para mim é algo normal, mas isso comove. Uma mulher até me perguntou se eu estava doando a Lilica. Mas não, eu cuido dela e não quero me aproveitar da situação. Eu a amo, não vou doar, vender, nada. Eu vou cuidar dela até o fim”, afirmou a dona da cadela solidária.
Emidio Campos
Instrutor de Segurança
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