Moradores de condomínio em Planaltina temem nova chacina
O medo e a violência transformaram, de um dia para outro, a rotina dos moradores do Condomínio Nosso Lar, em Planaltina. Muitos pensam em se mudar após a chacina ocorrida no Bar do Branco, no Conjunto E da localidade. Três pessoas morreram e quatro ficaram feridas no último domingo quando, por volta das 23h30, cinco homens encapuzados invadiram o estabelecimento com um fuzil e uma espingarda calibre .12, disparando contra os frequentadores. O crime ocorreu cerca de 20 minutos após um carro da Polícia Militar passar na rua.
A 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina) investiga as mortes. O Correio Braziliense foi ao local do crime e conversou com moradores da região (1) e algumas testemunhas. Populares têm medo de falar no assunto e, quando concordam em dizer algo, pedem para não ser identificados. Oito meses atrás, homens já haviam invadido o bar e atirado contra frequentadores. Na época, três pessoas ficaram feridas. Para populares, a ação foi um acerto de contas por dívida de droga e há quem diga que o crime vai se repetir.
Na ação dos assassinos, morreram Maurício Soares Rodrigues, 23 anos, Hugo Bruno Nunes Pereira, 29, e Eduardo Souza da Silva, 19. Para a Polícia Civil, o alvo era Maurício. De acordo com o titular da 16ª DP, Marcos Naves, a vítima era um homem perigoso. Ele estava em liberdade condicional por porte de arma e respondia por homicídio qualificado, roubo à mão armada e furto. As outras duas vítimas não tinham antecedentes criminais.
Uma mulher que bebia no bar no momento da chacina foi atingida por um tiro de raspão na cabeça. Ela contou que, na hora, só conseguiu pular para trás do balcão e rezar de olhos fechados (ver depoimento). Nervosa, disse que pensa em se mudar. Uma dona de casa que mora no Conjunto D do Condomínio Cachoeira, próximo de onde ocorreu a chacina, afirma que também vai sair de lá. “Meus filhos brincavam na rua até o último sábado. Hoje, não deixo mais. Estão todos com medo. Existem boatos de que os assassinos vão voltar. A gente não se sente seguro aqui”, disse a mãe de família.
Outra testemunha contou detalhes da invasão. Segundo o homem, quando os assassinos chegaram, Maurício fugiu para a casa do proprietário do bar, Leonor Ribeiro Marciel, 51, conhecido como Branco, que foi ferido com um tiro de espingarda na barriga e está em estado grave no Hospital Regional de Planaltina. “Deram um tiro de .12 no braço e outro na cara de Maurício. Ele estava escondido no banheiro. Ele comprou droga e não pagou. Os outros que morreram já não tinham a ver com a história. O que falam é que o grupo tem outras duas vítimas”, revelou.
Tráfico
De acordo com um policial militar ouvido pelo Correio, o bar era frequentado por usuários de droga e era comum a presença de traficantes no local. Segundo ele, Maurício pode ter sido morto por dívidas, mas também foi uma ação de força dos assassinos, que pode significar briga por domínio do tráfico de drogas na região. “Esse tipo de ação é para mostrar força. Não é provável que voltem naquela rua, mas podem fazer isso em outros locais para dominar os pontos. Mas ainda não conseguimos ligar diretamente a droga com o crime”, afirmou.
Segundo o comandante do Batalhão da Polícia Militar de Planaltina, Tenente Coronel Leonardo Santana, a polícia está presente na região e tem combatido o tráfico com policiamento velado. Santana disse ainda que é o primeiro caso envolvendo um fuzil nos últimos 30 meses. “Aquele bar não tem alvará. Constantemente surgem estabelecimentos assim. Tínhamos passado pelo local pedindo para o dono fechar minutos antes, mas ele não fechou” disse.
O delegado-titular da 16ª DP, Marcos Naves, também colocou o tráfico de drogas como um dos motivadores da chacina. No entanto, segundo ele, existem outras rixas entre Maurício e os assassinos. Questionado sobre possível ação de gangues, problema recorrente na cidade, negou. “Não se trata de uma briga de gangues e é cedo para falar em quadrilha. Mas há um grupo armado”, admitiu. Os assassinos podem responder pelo menos por homicídio qualificado, porte ilegal de arma restrita e tentativa de homicídio contra os quatro sobreviventes. “Estamos ouvindo testemunhas. A pena passa de 50 anos. Se alguém tiver pistas ou informações que possam ajudar nas investigações, podem ligar para o 197. A denúncia é anônima”, concluiu.
1 - Crescimento desordenado
Segundo dados da Gerência de Ordenamento Territorial da Administração de Planaltina, o número de moradores dos condomínios Nosso Lar e Cachoeira fica entre 1,2 a 1,3 mil. O comandante do Batalhão da Polícia Militar de Planaltina, Tenente Coronel Leonardo Santana, explicou que o crescimento desordenado colabora com o aumento da criminalidade.
Emidio Campos
Gestor de Segurança
http://segurancadecondominio.blogspot.com
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