Jardim Sulacap: bairro ou condomínio privativo?
Quem visita Jardim Sulacap tem a sensação de que, em vez de chegar a um bairro como outro qualquer, entra em um grande condomínio privativo. O acesso a 20 ruas da localidade é controlado por meio de portões trancados com correntes e cadeados, cancelas vigiadas 24 horas por dia, câmeras, muros de concreto e até uma barricada de gelos-baianos fincados no asfalto. De acordo com o subprefeito da Zona Oeste, Edimar Teixeira, todas essas barreiras foram instaladas irregularmente e, portanto, devem ser retiradas. A Polícia Militar afirma que os bloqueios prejudicam o patrulhamento. Já os moradores alegam ter um bom motivo para “trancar” o bairro: a insegurança.
Nas imediações do cemitério Jardim da Saudade, isso começou a ser feito em 2006. Para quem reside no entorno da Praça Nuno Roland, onde três das cinco ruas de acesso são fechadas por um muro e uma barricada, as interdições foram um divisor de águas.
— O bloqueio foi a melhor coisa que nos aconteceu. Antes, assassinatos, tiroteios e carros incendiados faziam parte da nossa rotina. Um casal foi morto exatamente no local onde, hoje, há um muro. Além disso, moradores de outros bairros vinham aqui para jogar lixo na praça. Com as medidas de segurança que foram tomadas, nossa vida passou a ter paz, ficou uma maravilha — diz Hermes Júnior, de 27 anos, que mora no bairro desde que nasceu.
Segundo o subprefeito Edimar Teixeira, licenças para fechamento de vias são concedidas pelas subprefeituras e precisam ter o aval da Polícia Militar e da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio). Três quartos dos moradores precisam assinar um abaixo-assinado solicitando as obstruções.
— Nenhum dos responsáveis pelos casos do Jardim Sulacap respeitou esse procedimento — diz Teixeira.
A Associação de Moradores do Jardim Sulacap (Amisul) afirma não ter qualquer participação nas interdições.
— Sabemos que são ilegais e já discutimos isso em reuniões. Trata-se de uma iniciativa de moradores tomada de forma independente. O problema é que há um sentimento generalizado de insegurança. Em 2008, após troca no comando do batalhão da PM da região, o policiamento comunitário, que dava certo, foi interrompido — afirma Alexandre Madruga, coordenador da Amisul.
De acordo com Rafael Mitchell, presidente da Comissão de Direito Urbanístico da seção Rio de Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), os motivos não importam: bloquear ruas é ilegal.
— Só o governo pode aplicar instrumentos urbanísticos. Os moradores que necessitarem de alguma intervenção devem solicitá-la à prefeitura — alerta Mitchell.
Segundo o coronel José Macedo, comandante do 14º BPM (Bangu), o policiamento do Jardim Sulacap melhorou desde que ele assumiu o cargo, em agosto. Hoje, é feito por equipes que utilizam dois carros e uma dupla de cavalos. Na próxima semana, haverá o reforço de dois motociclistas.
O subprefeito disse que vai averiguar todos os obstáculos. Caso nenhum morador entre em contato para tentar regularizá-los, serão removidos. A barricada de gelos-baianos, que ele diz ser “parecida com as do tráfico”, serão retiradas sem aviso prévio. Na Praça Nuno Roland, Edimar Teixeira prometeu instalar dois refletores de luz e podar as árvores.
Emidio Campos
Gestor de Segurança
http://segurancadecondominio.blogspot.com
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