Contrariando decisão da Justiça, a Prefeitura de Mauá abandonou tratamentos e monitoramentos médicos que está obrigada a fazer aos moradores do Condomínio Barão de Mauá, no Parque São Vicente, em Mauá. Os habitantes do local contam que há mais de cinco meses a administração municipal suspendeu a atenção dada a diversos cidadãos que passaram a apresentar problemas de saúde decorrentes da explosão de gases tóxicos que atingiu o condomínio em abril do ano 2000.
O local foi construído em cima de um lixão industrial. Somente em 2004, 12 moradoras sofreram abortos. No ano passado, um rapaz de 23 anos, que trabalhou como jardineiro no local, morreu de câncer de mediastino.
Em 2006, a Justiça publicou sentença condenando as rés do processo: a Cofap, que durante anos depositou lixo industrial no terreno, que acabou contaminando o solo; a Paulicoop, que comprou o local para erguer o condomínio; SQG e Soma (construtoras) e a Prefeitura de Mauá, que autorizou os empreendimentos.
Elas foram condenadas a pagar indenizações, a evacuar o local e adotar medidas preventivas, "inclusive à saúde dos moradores, até que a evacuação do ambiente se opere. A prevenção da saúde engloba a realização de exames médicos, em indivíduos que reclamarem de tal medida", diz a decisão judicial.
Anteriormente, o Diário já havia publicado que muitos condôminos estão com alergias e que já houve casos de câncer de pele. Porém, segundo os moradores, há mais de cinco meses, não estão sendo realizados os exames preventivos que a Prefeitura é obrigada a realizar.
"Meu filho e meu marido, que fazem os exames pela Secretaria de Saúde de Mauá, estão desde outubro sem acompanhamento. Dizem que não têm os frascos adequados para a coleta", contou Tânia Regina da Silva, 51 anos, síndica de um dos conjuntos do condomínio.
A família de Tânia é uma das 1.700 que ainda vivem no conjunto depois da explosão que matou o microempresário Geraldo Riviello aos 37 anos, com 90% do corpo queimado, e causou queimaduras de 2º e 3º graus, em 25% do corpo de Marcus Vinícius Ferreira. Atualmente com 30 anos, Marcus precisou realizar 12 cirurgias plásticas reparadoras. Ambos faziam manutenção da bomba-d''água de um dos poços do lugar, quando ocorreu uma explosão possivelmente causada por gases tóxicos e inflamáveis. Laudos da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) da época indicaram grande concentração de metano e benzeno, entre outras substâncias.
A família de Riviello, Marcus e os habitantes do condomínio aguardam decisão definitiva do Tribunal de Justiça, que deve sair até o fim do mês.
Moradores têm problemas graves de saúde
A dona de casa Andreia Cristiane Pessuto Sarti, 32 anos, é uma das moradoras que aguardam com ansiedade a decisão da Justiça. Sua filha de 9 anos está com púrpura, doença causada pela ruptura dos vasos sanguíneos. "Quando ela se machuca, fica toda roxa. Precisou tomar grandes doses de cortizona durante um ano, todos os dias. Agora, que faz quase um ano que ela está sem tomar a substância, os médicos alertaram para o surgimento de leucemia", contou a mãe.
Andreia guarda diversos documentos da internação de sua filha, quando descobriram o problema, no fim de 2008. Entre eles, um atestado da médica Ana Maria Moreno Claro, do Hospital Estadual de Diadema, de 1º de junho, afirmando que sua filha precisaria ser "afastada do condomínio onde mora" para melhor recuperação.
No mesmo ano, antes de descobrir a doença da filha, Andreia sofreu um aborto espontâneo, em abril. "Estava com quatro meses de gravidez", relatou a dona de casa, que atualmente recebe pensão deixada pelo marido e não tem condições de sair do condomínio.
CÂNCER - Sebastião, 50 anos, e Eliana, 47, que preferem não se identificar com os sobrenomes, recuperavam-se do choque de perder, em novembro de 2008, o filho único, aos 23 anos, de um câncer raro, no mediastino, quando receberam a notícia de que Eliana estava com câncer na mama esquerda. "Ele tinha 11 anos quando nos mudamos. Aos 13 e 14 anos ajudou na jardinagem do condomínio. Aos 21 descobrimos o câncer", contou Eliana.
"Os moradores estão doentes gravemente. É um caso que não pode ser esquecido. Já pedimos ajuda à Secretaria Estadual de Saúde para realização dos exames (de responsabilidade do município, segundo determinação da Justiça). A Pasta acenou positivamente", declarou a deputada estadual Vanessa Damo (PMDB), que preside a Frente Parlamentar em prol dos moradores do Condomínio Barão de Mauá, na Assembleia Legislativa.
Emidio Campos
Gestor de Segurança
http://segurancadecondominio.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário